10 de jan. de 2014

Coisas que só a vida ensina...




Engraçado como somos forçados a repensar nossas vidas em dados momentos da mesma. Geralmente esses momentos acontecem quando nos chocamos com algum acontecimento extraordinário, seja ele benéfico ou maléfico para nós.

Hoje passei por uma das situações mais inusitadas da minha vida, e até agora sem entender o porque, apenas me dei conta de que nós como seres humanos temos facilidade para tornarmos babacas. 

Uma frase que um grande amigo meu sempre diz é "a vida é um grande saco de bosta de onde saem coisas interessantes as vezes". Essa frase sempre fez muito sentido na minha vida, visto que ela lembra uma novela mexicana de péssimo gosto, dessas que passam no SBT, porém me dei conta de algo hoje, somos nós em algum momento de nossas vidas que enchemos esse saco! Vocês já irão entender onde quero chegar.

Voltava do trabalho, em meu modo "autista" com fones de ouvido no volume máximo, pensando em chegar em casa o mais rápido possível, pensando nos problemas financeiros, organizar as contas, clientes que preciso anteder no trabalho, etc. 

Pra completar o final do dia, passear de ônibus cheio, derretendo de calor, faz com que o caminho só pareça mais longo e cansativo. Ao descer do penúltimo ônibus na plataforma, a garganta já seca somada ao calor e meu sedentarismo misturados com a frustração de ver o último ônibus que pego para o trajeto final até minha residência partindo a poucos metros de onde eu estou, me fizeram ir em direção a uma banquinha comprar algo gelado para aguentar o calor enquanto esperava o próximo ônibus dessa linha.

Já sentado em um dos bancos do terminal com a garrafa de refrigerante vazia em minha mão, sacudindo impacientemente, ao longe noto a figura de um garoto, de cerca de 6 anos de idade, brincando sozinho como as crianças dessa idade conseguem, em seu mundinho particular, girando em cima de outro banco a alguns metros de onde eu estava sentado.

Não sei se foi minha cara de frustração pelos problemas do dia a dia, se minha cara empapada de suor, ou minha camiseta vermelha que chamaram a atenção do garoto, mas em um piscar de olhos o garoto estava em minha frente, me olhando com um sorriso gentil de criança que está feliz, mesmo sem ter o porquê e me diz: "Deixa que eu jogo no lixo pra você".

Meio atônito as palavras do garoto que mal chegaram aos meus ouvidos por conta dos fones e sua música estridente que me separava do mundo dos demais a minha volta, simplesmente fiquei olhando para o garoto de pele morena, gordinho, parecendo o boneco da "michelen", que sem cerimônia alguma pegou da minha mão a garrafa vazia e um guardanapo amassado que eu segurava e levou até o lixo mais próximo.
Foda quando percebemos o quão BABACA somos. Me peguei instantaneamente vasculhando os bolsos em busca de alguma moeda, já pensando se tratar de algum garoto de rua que estava em busca de algum trocado.

O garoto voltou ao seu banco, e foi então que percebi que foi apenas um gesto de gentileza, totalmente automático, sem esperar nada em troca, fazer o bem apenas por fazer o bem.Chocado com tamanha ignorância minha, me peguei sorrindo e olhando para o garoto, que sorriu novamente e veio sentar-se ao meu lado.

Do nada o garoto começa a falar, como um daqueles velhos que encontramos em um elevador, falando sobre o calor, sobre o jogo de futebol que corria do lado de fora do terminal e apontou para o avô que o observada de longe na plataforma enquanto certamente esperando o próximo expresso.

Por burrice, falta de discernimento e certamente ainda constrangido com a situação, não perguntei o nome do garoto, nem agradeci gentilmente seu gesto anterior, apenas dei corda para sua conversa, com perguntas meio bestas como "e você gosta de jogar bola?", "também está com muito calor?".

O fato é que esses raros momentos, passam rápido e só percebemos o valor deles muito depois que eles terminam. Meu ônibus chegou e me despedi do garoto com um "prazer te conhecer" e um sorriso, o qual foi respondido a altura pelo garoto, tanto o sorriso quanto o cumprimento em sua mãozinha gordinha mas forte.

Ao sentar em meu ônibus parei e pensei.... qual foi a última vez que fiz algo para alguém, que nem ao menos conhecesse pelo simples fato de ser gentil e prestativo? Ajudar por ajudar? Esta é a pergunta que lanço para você leitor, qual foi a última vez que você ajudou um estranho com a coisa mais simples que fosse?

Fiquei constrangido quando dentro das minhas próprias lembranças tive dificuldade em lembrar do último gesto de solidariedade que tive.

Voltando ao saco, bem.... somos nós que enchemos ele de merda quando vivemos preocupações fúteis, temos atitudes egoístas e falsas, mesmo diante das pessoas que amamos. Somos nós que esquecemos de jogar algo de bom dentro do saco, e quando mais precisamos de algo que nos faça acordar na vida, enfiamos a mão la dentro e saímos com a mão suja e ainda mais frustrados. 

Espero mesmo que esse garoto cresça, com essa mesma índole, que por mais que ele nunca venha a ler esse texto, torne-se exemplo para alguma pessoa que realmente precise, assim como ele me fez pensar e lembrar que faz muito tempo em que não ajudo alguém apenas por ser outro ser humano igual a mim, com defeitos, problemas, mas ainda assim, um ser humano.

Texto por Derek Muggiati 
 

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